II – FALAR, LER, CRIAR, ESCREVER
Consideramos falar, ler, criar e escrever como partes de um mesmo método, elos de uma mesma corrente.
É de fundamental importância incentivar a expressão oral do aluno, valorizando-a independentemente da variante lingüística em que ela se manifestar. A fala reflete a bagagem existencial do emissor, a leitura que ele faz do mundo que o cerca.
Essa vivência condicionará também a leitura do texto escrito. Ao professor caberá promover um encontro estimulante do aluno com o texto, não se esquecendo de que a leitura só se realiza plenamente quando estabelecemos uma ligação entre nós e o que lemos, adicionando toda nossa experiência de vida. É evidente que estamos falando de leitura em seu sentido mais amplo, não da mera decodificação de símbolos gráficos.
Depois de ouvir e ser ouvido, de anexar suas vivências às leituras trabalhadas em sala de aula, o aluno, integrado ao grupo, estará mais do que estimulado a criar e escrever.
III – ETAPAS DA OFICINA
São três as etapas da oficina
Desinibição
Estímulo
Criação
A. DESINIBIÇÃO
O primeiro passo a ser dado pelo professor será o de deixar seus alunos à vontade, para que possam expor, sem receio, suas idéias, opiniões, sentimentos. Por isso dizemos ser a socialização o primeiro momento da oficina. Ela é essencial para a desinibição, que levará o indivíduo a sentir-se seguro diante dos colegas, garantindo uma troca – que se pretende frutífera – de vivências.
Deveremos aplicar nesta etapa técnicas de teatro, jogos, músicas e dinâmicas de grupos que, com certeza, surtirão efeitos positivos. Podem ser empregados também exercícios de ritmo, relaxação e respiração, que, além de atuarem como desinibidores, são capazes de aguçar os sentidos e a observação, de tornar os participantes mais atentos, contribuindo para o desenvolvimento sensório-motor e para o equilíbrio corporal. Acreditamos que, se sensibilizarmos as pessoas para o mundo que as cerca, elas tornarão mais perspicazes ao lerem um texto, detectando-lhe os vários sentidos e percebendo-lhe as diferentes nuances.
B. ESTÍMULO
A desinibição segue-se o estímulo. Como tal, entendemos a força que provoca sentimentos, gera reações, ativa a perspicácia, elementos capazes de impulsionar os recursos imaginativos, fundamentais para a formulação de um texto criativo.
A fim de estimular nossos alunos, é importante utilizarmos de jogos verbais – especialmente aqueles que trabalham com a palavra - , de gravuras, propagandas, histórias em quadrinhos, música, novela, slides, power point, reportagens de jornais ou revistas, livros.
Sugerimos de início o uso da gravura, pela facilidade que apresenta de captar a atenção: basta constatar o domínio exercido pela imagem no mundo contemporâneo.
Poderemos servimo-nos também, de modo especial, dos textos publicitários, que, por seu caráter apelativo, atraem o leitor.
Outro recurso que oferece bons resultados é a história em quadrinhos, por associarem imagem e texto e permitirem que, aos poucos, concentrem-se os esforços sobre a linguagem articulada, o real centro dos interesses da Oficina da Palavra.
É importante trabalharmos atividades que envolvem o diálogo, trabalhando a linguagem oral, a descrição, aprimorando a capacidade de observação e aguçando a sensibilidade do aluno, a narração apresentada em suas mais diferentes formas: o conto, a crônica, a novela e o romance, e, finalmente, a poesia, destacando-lhe o caráter lúdico, seu ritmo, suas rimas.
C. CRIAÇÃO
Concluídas as fases preliminares, entra-se na terceira e última etapa da Oficina da Palavra. Uma vez desinibidos, bem integrados e estimulados, é mais fácil aos alunos deixarem fluir a criatividade. Elaborar um texto é a oportunidade de dar asas à imaginação, alimentada pelos exercícios anteriores.
Os trabalhos realizados nessa etapa, assim como nas outras, ocorrem numa espiral ascendente, em que a palavra é a mola que aciona a produção até se chegar à criação do texto.
Sempre que necessário, o professor deve formular perguntas que ajudem o aluno a estruturar melhor o seu discurso. É imprescindível ressaltar, entretanto, que o texto deve transcender tais questões, pois, se preso a elas, tornar-se-á indubitavelmente pobre e sem originalidade.
Só conseguimos entender o processo de criação criando. E é exatamente este o objetivo final da Oficina da Palavra: desinibir e estimular o aluno, para facilitar a criação de textos.
IV – AVALIAÇÃO
Corrigir e avaliar os trabalhos são etapas que não podem prescindir do aluno.
É preciso, em primeiro lugar, que o professor aceite o registro lingüístico que o aluno traz consigo. A não-aceitação desse registro e a imposição ostensiva da norma culta tem gerado muitos conflitos. Dentro dessa perspectiva de ensino, o que se observa, ao final dos anos escolares, é que o aluno não conseguiu assumir o discurso da norma culta pela escola nem tampouco aprimorou seu próprio discurso.
O ato de corrigir um trabalho é um momento de reflexão do professor e do aluno, juntos. Cada trabalho deve ser revisto em aula pelo aluno, com a ajuda do professor. Cada um, com seu lápis, fará a correção do próprio trabalho à vista do professor. Com ajuda do dicionário, sempre à disposição dos alunos, os vocabulários repetidos poderão ser substituídos por sinônimos. Ao longo do tempo, esse hábito se torna fonte de enriquecimento lingüístico para o aluno.
Precisamos lembrar que o professor é um orientador, um revisor do texto do aluno e não um co-autor. Ele deve, acima de tudo, respeitar o estilo de cada um.
Cada sucesso merece um elogio e cada insucesso, uma orientação. O conceito não é uma escala fria relacionando pontos e acertos. Num trabalho criativo, em que o emocional está envolvido, não cabe um critério-padrão. As avaliações devem ser feitas com toda a turma e a conceituação, discutida.
Todos nós nascemos para ter sucesso e por ele brigamos. Ninguém aceita o fracasso, muito menos o aluno, que convive com um grupo em que está sempre sendo observado e criticado pelos colegas. Por isso, quando esse sucesso não acontece, é preciso sensibilidade bastante para detectar o porquê e ajudar o aluno a vencer as dificuldades.
Desta forma é importante que haja uma ficha de avaliação do aluno e que este tenha acesso a ela, a fim de acompanhar seu próprio desempenho, com plena consciência de suas dificuldades, que poderão ser superadas se ele for devidamente encorajado.
Nestas fichas, os conceitos devem sair da subjetividade de uma visão pessoal para serem subdivididos em itens, tornando-se mais objetivos.
A organização frasal, o desenvolvimento do tema, a acentuação, a ortografia e a pontuação devem ser conceituados separadamente, para que haja um controle do crescimento de cada elemento do grupo. Assim, fica mais fácil detectar onde está a dificuldade maior de cada um e acabar com a supervalorização da ortografia em detrimento de outros elementos tão ou mais importantes do que ela.
A organização lógica do pensamento tem sido uma das maiores dificuldades observadas no discurso do aluno. Por isso, ao elaborarrmos o Projeto, Oficina da Palavra, esta passou a ser a preocupação primeira. Sua necessidade não se restringe ao âmbito escolar, mas se estende a todos os campos da atividade humana. Se as leis do ensino colaboraram para chegar a esse resultado, detectado ao final de oito ou dez anos de freqüência escolar, e muito pouco foi feito para melhorar o quadro dos acontecimentos, cabe aos professores iniciar a mudança em suas salas de aula.